- “ O Último Voo do Flamingo”
– Mia Couto
“ Tizangara, primeiros anos do
pós-guerra. Nesta vila tudo parecia correr bem…
Os capacetes azuis já haviam
chegado para vigiarem o processo de paz, e o dia-a-dia da população corria numa
aparente normalidade. Mas por razões que quase todos desconheciam, esses mesmos
capacetes azuis começaram de súbito, a explodir. Massimo Risi, o soldado
italiano das Nações Unidas destacado para investigar estas estranhas explosões,
chega a Tizangara. Colocam-lhe um tradutor à disposição, e é através do relato
deste que tomanos conhecimento dos factos. Entramos num mundo de vivos e de
mortos, de realidade e de fantasia, de feitiços e de sobrenatural. A verdade e
a ficção passam por nós em personagens densamente construídas, de que o
feiticeiro Andorinho, a prostituta Ana Deus, o padre Muhando, o administrador
Estêvão Jonas e a sua mulher Ermelinda, a velha-moça Temporina, o velho
Sulplício, são apenas alguns exemplos … O mistério adensa-se. Os soldados
morreram ou foram mortos?”
- “ Vozes Anoitecidas” –
Contos – Mia Couto
“ O que mais dói na miséria é a
ignorância que ela tem de si mesma. Confrontados com a ausência de tudo, os
homens abstêm-se do sonho, desarmando-se do desejo de serem outros.
Existe no nada essa ilusão de
plenitude que faz parar a vida e anoitecer as vozes.
Estas estórias desadormeceram em
mim sempre a partir de qualquer coisa acontecida de verdade mas que me foi
contada como se tivesse ocorrido na outra margem do mundo.
Na travessa dessa fronteira de
sombra escutei vozes que vazaram o sol. Outras foram asas do meu voo de
escrever. A umas e a outras dedico este desejo de contar e de inventar.”
- “ Os Guardiães de Pedra”
– Ulysses Moore
“ Amigo viajante, se quiser
subir,
Com meia de areia e meia de vento
O seu coração tem de preencher
E com amigos, creia, pelo menos
um cento.”
- “ No meu Peito não Cabem
Pássaros” – Nuno Camareiro
“ Que linhas unem um imigrante
que lava vidros em Nova Iorque a um rapaz misantropo que chega a Lisboa num navio
e a uma criança que inventa coisas que depois acontecem? Muitas. Entre elas, as
linhas que atravessam os livros.
Em 1910, a passagem de dois
cometas pela Terra semeou uma onda de pânico. Em todo o mundo, pessoas
enlouqueceram, suicidaram-se, crucificaram-se, ou simplesmente aguardaram,
caladas e vencidas, naquilo que acreditavam ser o fim do mundo. Nos dias em que
o céu pegou fogo, estavam vivos os protagonistas deste romance – três homens
demasiado sensíveis e inteligentes para poderem viver uma vida normal, com mais
dentro de si do que podiam carregar.
Apesar de separados por milhares
de quilómetros, as suas vidas revelam curiosas afinidadese estão marcadas, de
forma decisiva, pelo ambiente em que cresceram e pelos lugares, nem sempre
reais, onde se fizeram homens. Mas, enquanto os seus contemporâneos se deixaram
atravessar pela visão trágica dos cometas, estes foram tocados pelo génio e
condenados, por isso, a transformar o mundo. Cem anos depois, ainda não
esquecemos nenhum deles.”
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