24/01/2012

Comunidade de leitores : Ilha das Trevas


A propósito da 1ª sessão da Comunidade de Leitores, deste ano lectivo, partilhamos uma leitura de A Ilha das Trevas, de José Rodrigues dos Santos.

Neste livro, este autor português revela uma faceta inédita, um estilo mais realista e jornalístico, diferente do de outros livros seus mais conhecidos.
Trata-se do seu primeiro romance, tendo sido publicado muito antes das obras que o tornaram famoso. Neste, o autor debruçou-se sobre a realidade de um povo, sobre o percurso de um país, contando-nos, através de alguma mas pouca ficção, verdades cruéis e assustadoras. Na verdade, a obra parece mais um ensaio do que propriamente um romance, devido à primazia dada aos factos históricos.
Paulino da Conceição é apenas um dos timorenses que viveu todas as barbaridades que se seguiram à saída dos portugueses de Timor-Leste e, apesar de não ser a personagem principal da obra, é através dele, dos seus traumas e das suas reflexões, que nos é dado compreender as verdadeiras implicações deste acontecimento. Esta é uma personagem muito humana e crível, mas a personagem principal da obra é, sem dúvida, o povo timorense que nunca desistiu de lutar pela autonomia e liberdade e sofreu todos aqueles horrores.
Nesta obra, são narrados os principais momentos da instabilidade política vivida na, então, recente ex-colónia portuguesa. Desde a insegurança interna inicial até à independência oficial do país, passando pela catastrófica invasão indonésia, o leitor percebe, nesta obra, a realidade dramática vivida pelo povo que foi, literalmente, chacinado com uma brutalidade feroz e odiosa.
A leitura de Ilha das Trevas trouxe-nos à memória alguns factos deste período negro da história do povo Timorense, sobretudo, o tristemente célebre caso do Cemitério de Santa Cruz, que chocou o mundo ao ser exibido, na época, nos telejornais, contudo houve outros factos, igualmente chocantes, durante o percurso que culminou na independência de Timor-Leste, que nos abalaram. A história é contada com precisão e sem melodrama, mas é intensa, comovente e dilacerante. O facto de a sabermos real obriga-nos a parar para pensar no quão abominável consegue ser o Homem, capaz de realizar ações terríveis que envergonham a civilização.
Cremos que é uma óptima criação literária, na medida em que consegue aliar realidade e ficção na perfeição, captando a atenção e emoção do leitor, levando-o a refletir. A narração é simples e direta, adapta-se muito bem ao conteúdo, fomentando a análise e crítica dos acontecimentos narrados.
Concluindo, A Ilha das Trevas é uma obra bem diferente da conhecida ficção do autor, sobretudo, devido aos acontecimentos históricos analisados em retrospetiva. Valeu a pena lê-la, pois é impossível ficar indiferente ao que nos revela.
                                                      
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