A propósito da 1ª sessão da Comunidade de Leitores, deste ano lectivo, partilhamos uma leitura de A Ilha das Trevas, de José Rodrigues dos Santos.
Neste livro,
este autor português revela uma faceta inédita, um estilo mais realista e
jornalístico, diferente do de outros livros seus mais conhecidos.
Trata-se do seu
primeiro romance, tendo sido publicado muito antes das obras que o tornaram
famoso. Neste, o autor debruçou-se sobre a realidade de um povo, sobre o
percurso de um país, contando-nos, através de alguma mas pouca ficção, verdades
cruéis e assustadoras. Na verdade, a obra parece mais um ensaio do que
propriamente um romance, devido à primazia dada aos factos históricos.
Paulino da Conceição é apenas um dos timorenses que viveu todas as barbaridades que se seguiram
à saída dos portugueses de Timor-Leste e, apesar de não ser a personagem
principal da obra, é através dele, dos seus traumas e das suas reflexões, que nos
é dado compreender as verdadeiras implicações deste acontecimento. Esta é uma
personagem muito humana e crível, mas a personagem principal da obra é, sem
dúvida, o povo timorense que nunca desistiu de lutar pela autonomia e liberdade
e sofreu todos aqueles horrores.
Nesta obra, são
narrados os principais momentos da instabilidade política vivida na, então,
recente ex-colónia portuguesa. Desde a insegurança interna inicial até à
independência oficial do país, passando pela catastrófica invasão indonésia, o
leitor percebe, nesta obra, a realidade dramática vivida pelo povo que foi, literalmente,
chacinado com uma brutalidade feroz e odiosa.
A leitura de Ilha das Trevas trouxe-nos à memória
alguns factos deste período negro da história do povo Timorense, sobretudo, o
tristemente célebre caso do Cemitério de
Santa Cruz, que chocou o mundo ao ser exibido, na época, nos telejornais,
contudo houve outros factos, igualmente chocantes, durante o percurso que
culminou na independência de Timor-Leste, que nos abalaram. A história é
contada com precisão e sem melodrama, mas é intensa, comovente e dilacerante. O
facto de a sabermos real obriga-nos a parar para pensar no quão abominável
consegue ser o Homem, capaz de realizar ações terríveis que envergonham a
civilização.
Cremos que é
uma óptima criação literária, na medida em que consegue aliar realidade e ficção
na perfeição, captando a atenção e emoção do leitor, levando-o a refletir. A narração
é simples e direta, adapta-se muito bem ao conteúdo, fomentando a análise e
crítica dos acontecimentos narrados.
Concluindo, A
Ilha das Trevas é uma obra bem diferente da conhecida ficção do autor,
sobretudo, devido aos acontecimentos históricos analisados em retrospetiva.
Valeu a pena lê-la, pois é impossível ficar indiferente ao que nos revela.
A B E
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