25/11/2009

Disparates literários

De Jaime Bulhosa apresento este texto, que me pareceu muito interessante, sobre alguns disparates de grandes autores:
"Poderíamos considerar diversos candidatos ao prémio de autor dos maiores disparates da literatura. Como Shakespeare, que assumia que a Boémia, situada onde é hoje a República Checa, tinha uma longa costa marítima, ou Walter Scott, que no seu livro The Antiquary escrevia que o sol se punha a leste, ou Miguel Sousa Tavares, que no seu livro Equador imaginou o governador de S. Tomé a fazer uma visita ao delegado do procurador da República, em Março de 1906, em pleno regime monárquico. A ficção científica também é pródiga, por razões óbvias, em afirmações que mais tarde se vem a verificar serem disparatadas e até engraçadas. Por exemplo: Arthur C. Clarke afirmou em 1966 que as casas voariam por volta do ano 2000: “(…) e virá o tempo em que comunidades inteiras migrarão para o sul no Inverno, ou mudarão para novas terras sempre que sentirem vontade de mudar de cenário.” Dionysius Lardner (1823) escreveu: “As viagens de comboio de alta velocidade não serão possíveis, os passageiros, impedidos de respirar, morrerão por asfixia.” John Langdon-Davies, no seu livro A Short History of the Future (1936), disse: “Por volta de 1960 o trabalho será limitado a três horas por dia” (era bom, não era?). R. Buckminster Fuller (1966) tem uma tirada fabulosa: “No futuro (2000), os políticos simplesmente desaparecerão. Não veremos mais nenhum partido político.” Ou quando alguém acerta (1949): “No futuro, os computadores não pesarão mais do que 1,5 toneladas. Na passagem da literatura para o cinema, também encontramos exemplos. No filme The Third Man, adaptação do livro de Graham Greene (que não tem qualquer responsabilidade sobre o erro), a personagem de Harry Lime faz o seguinte discurso:
 
A Itália, durante trinta anos sob o poder dos Borgias, ofereceu-nos guerra, terror, assassínios e derramamento de sangue. Mas também nos deu Miguel Ângelo, Leonardo da Vinci e o Renascimento. A Suíça tinha amor fraterno, 500 anos de Democracia e paz, para além de ter inventado o relógio de Cuco (...).
 
O discurso foi composto por Orson Welles quando representava o personagem Harry Lime. Welles escreveu um excelente texto, mas era péssimo em Horologia. O relógio de cuco foi inventado em meados do século XVIII não na Suíça, como ele afirma, mas sim na região do sul da Alemanha, que também nos deu Goethe, Kant, Schiller, Beethoven e Hegel. A mesma região que nos proporcionou, provavelmente, o maior erro e disparate de todos os tempos, e do qual saiu imensa produção literária, Adolf Hitler, Mein Kampf e seu Partido Nacional Socialista.
 
Jaime Bulhosa



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